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A Páscoa de Nossa Senhora

A Páscoa de Jesus. Nossa Senhora havia bebido todo o cálice da amargura durante a paixão de seu Divino Filho. Esse sofrimento, entretanto, tinha a sua consolação: a certeza da ressurreição, a certeza de que a primeira visita que Jesus glorioso faria, seria para Ela, sua Mãe. 

É certo, a aparição de Jesus a Maria Santíssima não está mencionada no Evangelho, mas pouco importa. Sabemos que os Evangelhos não relatam todas as ações do Salvador. É provável que a humildade da Virgem Santa não permitiu aos Evangelistas que relatassem o que era unicamente para a sua exaltação.

As razões mais imperiosas indicam que era um dever de Nosso Senhora apresentar-se primeiramente à sua querida mãe.

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Dever de Justiça

Era um dever de justiça pois, de tato, Maria havia sofrido tanto para nossa salvação, durante a Paixão, que era indispensável que recebesse a única recompensa proporcional a tal sofrimento incomensurável: a visita de seu querido Filho saído do túmulo, onde ela mesma o havia depositado após a descida da Cruz.

Dever filial

Era um dever filial… Como podemos imaginar que Jesus pudesse faltar com esse dever? Após o Pai Eterno, não cabia o seu primeiro pensamento, após a ressurreição, a outra criatura que não fosse sua Mãe.

Dever de amor recíproco

A Igreja Católica afirma que Maria Madalena mereceu tomar parte nas alegrias da ressurreição, tendo a oportunidade ver Cristo ressuscitado no jardim, porque amava o divino Mestre com um amor ardente, mais ardente que dos outros discípulos.

É certo que Maria Santíssima, a Rainha do Amor formoso, amava a Jesus mais do que todos os santos juntos. Porém, Jesus Cristo, como consequência de seu amor incomparável à sua Mãe, lhe devia esta prova de amor. 

Rainha dos céus

Voltando das entranhas da terra, Jesus devia necessariamente aspirar a rever, quanto antes, aquela de cujos braços a morte o havia arrebatado. É, pois, certo que Jesus reservou a sua primeira visita para a sua Mãe querida. Aliás, tal é o sentimento comum dos santos. Citemos em particular, Santo Ambrósio, Santo Anselmo, São Gregório de Nicomédia, São Bernardino de Sena, Santo Inácio de Loiola, que diz em seu livro de Exercícios Espirituais que aquele que duvidasse deste fato mereceria a repreensão que o próprio Salvador dirigiu aos seus Apóstolos “de falta de inteligência” (cf Mt 15,16).

Este é também o sentimento da Igreja que na festa da Páscoa, cantando o triunfo da ressurreição de Cristo, convida a Rainha do Céu a alegrar-se. É o canto do Regina Coeli, Rainha do céu.

Ora, a alegria de Maria, Causa de nossa Alegria, não teria sido diminuída se houvesse sido privada da presença de seu querido Filho?

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Esta verdade popular foi admiravelmente lembrada em certos países por muitos séculos no dia da Páscoa. Na Espanha, por exemplo, existiu uma cerimônia importante. Na primeira aurora da Páscoa, uma bela procissão saia da igreja. O sacerdote era seguido de numerosos meninos do coro, vestidos de brancos e levava, entre cantos festivos, o Santíssimo Sacramento. 

Seguiam até a outra igreja que havia servido de monumento, ou calvário (o local onde se havia conservado o santíssimo sacramento para a comunhão da sexta-feira santa). Quando ali chegava, as portas se abriam e a imagem de Maria Santíssima aparecia, toda vestida de luto.

De repente, duas crianças, vestidas de anjos, conduziam o sacerdote com o Santíssimo Sacramento até diante da imagem que inclinava-se três vezes, como se, neste encontro a Virgem Santa reconhecesse o seu Filho. Nesta hora, cantava-se o hino Regina Coeli, Laetare! Alegrai-vos Rainha do céu!

A aparição de Jesus 

A tradição conta que no Sábado Santo, a Virgem Santíssima ficou na casa do jardineiro de Jose de Arimatéia, absorta em sua dor, mas repleta de esperança, relembrando as palavras de Isaías: “Não permitirei, ó Deus, que o vosso Santo conheça a corrupção” e as palavras de Jesus que disse que sairia vivo do sepulcro no terceiro dia.

A aurora começava a dourar o horizonte do Calvário. A alma santa do Redentor, saindo da prisão do limbo, penetrou no sepulcro e animou de novo o corpo que havia deixado por três dias.

Os querubins e serafins do exército celeste haviam descido desde a Sexta-feira e formado guarda em torno do sepulcro onde jazia o Criador do mundo. Os anjos lhe haviam feito guarda de honra e eles, que um dia haviam adorado o Menino Jesus em um presépio, adoraram com temor o vencedor da morte.

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Jesus saiu do sepulcro, para onde iria? Ele penetra numa humilde casa de Jerusalém, onde sua Mãe reza profundamente. Maria vê seu filho! 

Segundo uma revelação feira a São Gregório, o arcanjo Gabriel, que lhe havia anunciado a Encarnação, foi anunciar-lhe também a ressurreição dizendo-lhe: Rainha do céu, alegrai-vos, porque ressuscitou Aquele que merecestes trazer em vosso seio!

E eis que a voz suave de Jesus ressoa em seus ouvidos: – Oh! minha Mãe!

– Oh! meu querido filho!

Estas palavras dizem tudo, e foram pronunciadas ao mesmo tempo. Eis Maria aos pés de Jesus, para adorá-lo. Jesus levanta-a, carinhoso. Quem poderia imaginar a alegria, a paz, a consolação, a suavidade, os abraços celestes, as efusões de coração a coração, deste momento único no mundo e no céu?

O próprio Jesus Cristo se dignou descrever esta cena inefável numa revelação, que fez à seráfica Santa Teresa. Confiou à Santa, que o abatimento da sua Santa Mãe era tão grande, que ela teria sucumbido a seu martírio, e que antes de mostrar-se a ela, no momento que saiu do túmulo, ela precisava de uns momentos para voltar a si antes de ser capaz de suportar tamanha alegria. (Vid.S. Teresa, add.)

Conclusão

A Páscoa não é, simplesmente, uma festa comemorativa, como muitas outras, deve ser uma realidade, uma renovação para cada um de nós . O Apóstolo disse: Ele ressuscitou para operar a nossa justificação. (Rom 4, 25)

Esta justificação consiste em primeiro lugar no perdão dos nossos pecados e depois na Comunhão Pascal, prescrita por Deus e pela Igreja. Durante os dias da Semana Santa, temos seguido, passo a passo, as dores da nossa querida Mãe, a Virgem dolorosa, e agora acabamos de partilhar as suas alegrias, perante o Salvador ressuscitado.

Tal alegria de Maria Santíssima seria incompleta, se não houvesse da nossa parte um generoso cumprimento do nosso dever da Páscoa. Por isso, mais uma vez, em nome e por amor da Virgem dolorosa, e agora à Virgem consolada, peço, encarecidamente, que nenhum católico deixe passar estes dias sem aproximar-se da Mesa Eucarística.