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Quaresma – Tempo de Penitência

A Quarta-Feira de Cinzas abre os quarenta dias que antecedem a Semana Santa, a Quaresma. Quando a Igreja nos fala da necessidade do jejum e da penitência como meios de melhor combater os vícios, pela mortificação do corpo, e auxiliar na elevação da mente a Deus.

Por esta razão a liturgia da Quarta-Feira de Cinzas recorda-nos também nossa condição de mortais: “Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó hás de voltar”, diz uma das duas fórmulas usadas pela Igreja para a imposição das cinzas.

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A consideração da passagem desta vida para a eternidade muitas vezes nos inquieta.

Entretanto, tal pensamento é altamente benfazejo para compenetrar-nos da necessidade de evitar o pecado. Sem o arrependimento e o imerecido perdão, poderá fechar-nos, para sempre, as portas do Céu: “Lembra-te de teu fim, e jamais pecarás” (Eclo 7,40).

Em sua segunda carta aos Coríntios, São Paulo nos incentiva a vivermos na graça de Deus: “Em nome de Cristo, vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!” (II Cor, 5, 20).

E com toda razão, pois o pecado nos afasta de Deus, tornando necessária a nossa reconciliação com Ele.

Se Jesus não tivesse assumido sobre Si a dívida contraída por nossos pecados, impossível seria nossa reconciliação com Deus. Teríamos para sempre fechadas às portas do Céu.

 

Tempo de Oração

A Quaresma é também tempo de oração, cuja essência, ensina o Catecismo, é a “elevação da mente a Deus”. Assim, é possível a qualquer um permanecer em oração inclusive durante os atos comuns da vida, realizando-os com o espírito voltado para o Céu.

Portanto, para rezar não é preciso tomar a atitude espalhafatosa e orgulhosa dos fariseus. Devemos, pelo contrário, ser discretos nas manifestações externas de nossa piedade particular, evitando gestos ou palavras que ponham em realce nossa própria pessoa.

Mas se apesar disso, nossa devoção for notada pelos outros, não devemos nos perturbar, tranquilizemo-nos com este ensinamento de Santo Agostinho: “Não há pecado em ser visto pelos homens, mas sim em proceder com a finalidade de por eles ser visto”.

A Igreja nos apresenta, portanto, o espírito com que se deve viver a Quaresma: não fazer boas obras com vistas a obter a aprovação dos outros, não ceder ao orgulho nem à vaidade, mas procurar em tudo agradar somente a Deus.

 

Tempo de sermos humildes

No jejum, na oração ou na prática de qualquer boa obra, não se pode erigir como fim último o benefício que daí possa nos advir, mas sim a glória d’Aquele que nos criou. Pois tudo quanto é nosso – exceção feita das imperfeições, misérias e pecados – pertence a Deus.

E também nossos méritos, pois é o próprio Jesus quem afirma: “Sem Mim, nada podeis fazer!” (Jo 15, 5). Assim, se tivermos a graça de praticar um ato bom, devemos imediatamente reportá-lo ao Criador, restituindo-Lhe os méritos, pois estes Lhe pertencem, e não a nós. “Quem se gloria, glorie-se no Senhor” (I Cor 1, 31), adverte-nos o Apóstolo São Paulo.

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Santa Teresa de Jesus assim define a humildade: “Deus é a suma verdade, e a humildade consiste em andar na verdade, pois de grande importância é não ver coisa boa em si mesmo, mas sim a miséria e o nada”.

Reconheçamos os benefícios que Deus nos dá e por eles rendamos-Lhe graças, não nos colocando jamais como objeto desse louvor, julgando sermos nós a fonte de qualquer virtude ou qualidade.

Tempo de combate

O Papa Emérito Bento XVI nos ensina: 

A Quaresma recorda-nos que a existência cristã é um combate incessante, no qual devem ser utilizadas as “armas” da oração, do jejum e da penitência. Lutar contra o mal, contra qualquer forma de egoísmo e de ódio, e morrer para si mesmos para viver em Deus é o itinerário ascético que cada discípulo de Jesus está chamado a percorrer com humildade e paciência, com generosidade e perseverança.

O dócil seguimento do Mestre divino torna os cristãos testemunhas e apóstolos de paz. Poderíamos dizer que esta atitude interior nos ajuda a ressaltar melhor também qual deva ser a resposta cristã à violência que ameaça a paz no mundo. Certamente não é a vingança, nem o ódio, nem sequer a fuga num espiritualismo falso. A resposta de quem segue Cristo é ao contrário a de percorrer o caminho escolhido por Aquele que, face aos males do seu tempo e de todos os tempos, abraçou decididamente a Cruz, seguindo o caminho mais longo, porém mais eficaz, do amor.

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Nas suas pegadas e unidos a Ele, todos nós devemos comprometer-nos na oposição ao mal com o bem, à mentira com a verdade, ao ódio com o amor. Na Encíclica Deus caritas est quis apresentar este amor como o segredo da nossa conversão pessoal e eclesial. Reevocando as palavras de Paulo aos Coríntios: “O amor de Cristo nos constrange” (2 Cor 5, 14), realcei como “a consciência de que, n’Ele, o próprio Deus Se entregou por nós até à morte, deve induzir-nos a viver, não mais para nós mesmos, mas para Ele, para os outros” (n. 33).

Conclusão

Nesta Quaresma, procuremos, mais ainda do que a mortificação corporal, aceitar o convite que o Evangelho nos faz, combatendo o orgulho com todas as nossas forças. Só estarão à direita de Nosso Senhor Jesus Cristo, no dia do Juízo Final, aqueles que tiverem vencido o orgulho e o egoísmo, reconhecendo que “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto.” (Tg 1, 17).


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