Nossa Senhora da Piedade

A Virgem na árvore

A devoção a Nossa Senhora da Piedade. Embora esse consolador amparo da Mãe tenha sido dispensado aos seus filhos desde os primeiros tempos da Igreja, a devoção a Nossa Senhora da Piedade tomou corpo e forma séculos depois, em Portugal.

Assim, pretendem alguns historiadores que no início do século XII já se tinha ali muita veneração a Nossa Senhora da Piedade de Merceana. Segundo a tradição, a Virgem apareceu num tronco de árvore.

Contam que um lavrador começou a notar que um dos bois de sua manada desaparecia todo dia à mesma hora, voltando pouco depois. Intrigado, resolveu seguir o animal durante uma dessas escapadas e verificou que ele se dirigia a um carvalho, debaixo do qual se ajoelhava, olhando para um dos galhos.

Para sua grande surpresa, o lavrador encontrou então uma pequena imagem gótica da Senhora da Piedade. Mais tarde foi colocada numa capela construída naquele lugar.

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A “Pietà”, de Michelangelo

Assim como a iconografia cristã procurou sempre nutrir a piedade dos fiéis por meio de belas e tocantes imagens, também a arte sagrada apropriou-se da fé e da devoção para expressar em riqueza de detalhes a confiança filial do povo em Nossa Senhora da Piedade.

Ao passo que a devoção a Ela se espalhava pelo mundo, multiplicavam-se suas representações em pinturas e esculturas por mãos de consagrados artistas. Nenhuma, porém, alcançou maior notoriedade do que a famosa Pietà, do mestre florentino Michelangelo. No auge do renascimento, em 1498, a pedido do Cardeal francês Jean Bilhères, o gênio esculpiu com singular perfeição a imagem da Senhora da Piedade. Essa logo se destacou pela beleza e profundidade da expressão religiosa.


Nossa Senhora da Piedade no Brasil

Dois anos depois de Michelangelo oferecer sua obra-prima à Igreja, os portugueses se aventuraram nas águas do Atlântico em direção às Américas, impulsionados pelo desejo de descobrir novas terras, bem como pelo intuito de propagar a fé cristã em outras latitudes do mundo.

Assim, chegando ao Brasil em 1500, os navegadores lusitanos trouxeram consigo seus costumes e suas devoções católicas. Uma delas, o culto a Nossa Senhora da Piedade.

Inegavelmente conquistou especial lugar nos corações brasileiros ao longo dos séculos. Dezenas de igrejas e outras tantas capelas foram erguidas em diversos recantos do país, consagradas à Mãe dolorosa. Entre todas essas manifestações, porém, merece particular referência a devoção à Senhora da Piedade nas Minas Gerais.

Provavelmente, esse culto entrou na província mineira através dos bandeirantes, pois Nossa Senhora da Piedade era a Padroeira de Guaratinguetá, passagem obrigatória naqueles tempos para os que transitavam entre o Rio de Janeiro e São Paulo, e muito frequentada pelos aventureiros que subiam a Serra da Mantiqueira à procura das minas de ouro naquela região.

Talvez o primeiro santuário de Nossa Senhora da Piedade em Minas Gerais tenha sido o de Barbacena, cuja matriz foi dedicada em 1748 e onde era venerada uma imagem da Virgem trazida de Portugal. Desse modo a devoção se espalhou pela terra mineira, sendo acolhida de modo especial no seu lugar mais emblemático: a Serra da Piedade.


Serra da Piedade

Segundo a tradição, a origem desse santuário plantado no alto da elevada montanha próxima à cidade de Caeté, prende-se às perseguições que o Marquês de Pombal moveu contra os jesuítas e várias famílias fidalgas de Portugal, em 1760. Entre os fugitivos da vingança do ministro de Dom José I encontrava-se o arquiteto Antônio da Silva Bracarena. Este prometera à Virgem Santíssima construir-Lhe uma igreja, se ficasse livre.

Sua decisão tornou-se mais forte quando soube de um estranho fato acontecido naquele local, alguns anos antes. Uma menina, muda de nascença, avistou por várias vezes no cume da montanha, aureolada de luz, a Virgem Maria trazendo nos braços o seu Divino Filho morto. Após estas visões, a criança começou a falar correntemente.

Impressionado com o fato, Bracarena iniciou então a edificação da igreja em 1767, e teria mandado vir de Portugal uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, de tamanho natural, talhada em madeira.

Hoje, contudo, a imagem ali venerada é atribuída ao famoso escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Seja como for, uma vez colocada no altar-mor da igreja serrana, diante dela os fiéis receberam e continuam a receber incontáveis e consoladoras graças ao longo dos tempos.

Cultuada há mais de dois séculos, a Santíssima Virgem Maria da Piedade foi decretada pelo Papa São João XXIII, em 20 de novembro de 1958, Padroeira do estado mineiro. Em 2017 o Santuário foi elevado à categoria de Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais. Um ano depois, dedicou-lhe o título de “santuário irmão” da Basílica da Anunciação de Nazaré, na Terra Santa.

De fato, incontáveis peregrinos vão ali pagar suas promessas. Muitos sobem a pé a trilha que leva ao alto da gigantesca montanha. E todos dali retornam reconfortados pelo afago espiritual que a Mãe de Piedade lhes imprime na alma. Deixam-lhes partir com a certeza de que nunca, em tempo algum, faltar-lhes-á com seu misericordioso auxílio.


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